


O Projeto “escola [bica-aquífero] mundo: lugares de aprendizagem entre o parque do bicão e o aquífero guarani” recebeu o primeiro lugar na categoria Humanas – Interior do Prêmio Boas Práticas em Atividades de Extensão.
A oficina escola [bica-aquífero] mundo foi realizada como Atividade de Curricularização da Extensão da USP, envolvendo pesquisadores da universidade, alunos de arquitetura e urbanismo do IAU-USP, educadores e estudantes da Escola Estadual Professora Elydia Benetti, em São Carlos-SP.
Inspirada pelo conceito de arte-ciência cidadã desenvolvido pelos coordenadores, a oficina propôs uma abordagem inter e transdisciplinar de cartografia multiespécies. Conectando o ambiente escolar ao Parque do Bicão e ao Aquífero Guarani, ao longo de cinco encontros foram realizadas coletas, estudos de espécies, produção de mapas, desenhos e fábulas; e a instalação de um diagrama cartográfico sob uma paineira existente no pátio da escola.
A instalação final e as interações com o território tornaram visível uma rede de relações multiespécies, revelando o potencial transformador da arte-ciência cidadã no cotidiano escolar e urbano.
O livro digital do projeto está disponível no Portal de Livros Abertos da USP.
Sinopse
O livro apresenta a experiência do projeto escola [bica-aquífero] mundo, desenvolvido como um (co)laboratório entre pesquisadores da USP, educadores e estudantes da Escola Estadual Professora Elydia Benetti, em São Carlos-SP, no contexto de uma Atividade de Curricularização da Extensão (AEX). Inspirado pelo conceito de arte-ciência cidadã desenvolvido pelos autores, o projeto propôs uma abordagem inter e transdisciplinar de cartografia multiespécies. Conectando o ambiente escolar ao Parque do Bicão e ao Aquífero Guarani, foram realizadas coletas, estudos de espécies, produção de mapas, desenhos e fábulas; e a instalação de um diagrama cartográfico sob uma paineira existente no pátio da escola. A instalação final e as interações com o território tornaram visível uma rede de relações multiespécies, revelando o potencial transformador da arte-ciência cidadã no cotidiano escolar e urbano. O projeto recebeu o primeiro lugar no Prêmio USP de Melhores Práticas de Extensão 2025.
SPERLING, David et al. Escola [bica-aquífero] mundo: lugares de aprendizagem entre o parque do bicão e o aquífero guarani. Universidade de São Paulo. Instituto de Estudos Avançados, 2025. DOI: https://doi.org/10.11606/9786587773766. Disponível em: www.livrosabertos.abcd.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/book/1636.
O princípio gerador do projeto, ligar a escola ao mundo a partir da bica-aquífero, buscou a ocupação física e simbólica da área sob uma frondosa paineira no pátio da escola. A partir do chão, a antiga bica – a nascente do córrego que dá nome ao parque – está ligada ao aquífero, como também estão a paineira da escola e as árvores do parque que ancoram suas raízes nesse mesmo chão. Das interações entre geologia e clima têm-se os biomas presentes na cidade, Cerrado e Mata Atlântica que, por sua vez, recobrem 40% do território brasileiro, sendo a paineira uma de suas árvores partilhadas.
Religar todos estes atores não-humanos a partir do chão fez emergir os objetivos do projeto: fazer ver a riqueza multiespécies presente nesse parque da bica-aquífero, fazer ver que a escola-paineira está ligada ao mundo. Assim como foi delineada nossa abordagem: a realização de uma cartografia multiespécies (BENOHR et al, 2021) coletiva do parque, entendendo as espécies vegetais e fungos como ecologias evidenciadoras (LYONS, 2018), e a construção ao redor da paineira de um mapa-instalação composto pelo material produzido ao longo da oficina.
Realizada em cinco dias, a oficina foi organizada a partir dos motes: mapear a bica, mapear o aquífero, desenhar a cartografia e instalar a cartografia. Iniciamos com uma expedição ao parque vizinho, desconhecido de muitos alunos, compreendido como continuidade da sala de aula. Percorremos sua extensão para o reconhecimento do território e suas múltiplas dimensões. Divididos em grupos e, contando com o olhar sensível e curioso dos alunos, identificamos os corpos d’água que conformam a bica, nos deixamos afetar pela diversidade de cores, cheiros e formas das espécies e fizemos coletas de folhas, flores, fungos e sementes que foram localizadas no mapa do parque e identificadas com apoio do aplicativo Seek [1].
Durante a segunda tarde, de volta à sala de aula, cada aluno escolheu uma das muitas espécies coletadas para aprofundar seus estudos. Observando um critério de não repetição, 22 espécies arbóreas e um fungo foram identificados e estudados por meio da elaboração de desenhos de observação seguido de uma pesquisa sobre a espécie, seu nome científico e popular, sua origem, suas características e ocorrência no planeta, assim como seus usos e aspectos culturais.
Nesta etapa, os alunos fizeram uso de microscópios e computadores, exercitando formas distintas de ver e acessar informações de modo integrado à expressão gráfica. O ato de observar exercita o olhar e o desenho expressa em formas compreensíveis os processos cognitivos estimulando a comparar, reconhecer, calcular e discutir ideias.
No terceiro encontro, estabelecemos um ponto de inflexão quando, apoiados por mapas e diagramas relativos ao Parque do Bicão, à cidade e ao estado de São Paulo, ao país, o continente e o planeta, passamos da escala local para a escala global evidenciando o princípio multiescalar e metonímico do projeto. Juntos, a bica, o aquífero, e cada espécie coletada agora localizada em seu ponto de origem no planeta, proporcionaram correspondências visuais e sistêmicas amparadas pelo conceito de ecologias evidenciadoras.
As chamadas ecologias evidenciadoras definem-se como práticas que emergem de processos de cura e de reparação ambiental e social no espaço urbano. Elas acionam a visibilização de estratos que podem facilmente passar despercebidos, como corpos de água soterrados, solos degradados, espécies invasoras, ou mesmo agentes submetidos a processos de invisibilização, como comunidades tradicionais e ancestralidades silenciadas. Nessa perspectiva, a noção de evidência não se limita a mostrar ou denunciar, mas assume um caráter formativo, estabelecendo vínculos de responsabilidade, afetividade e memória coletiva em relação ao território (KEMMER, 2024).
Como mais uma camada de linguagem poética, entre o terceiro e quarto encontro, exploramos a compreensão de que as espécies coletadas no Bicão vieram de diversos pontos do planeta. Sugerimos que cada aluno fabulasse como teria acontecido essa viagem e, por meio desse gesto de abertura, relacionassem aspectos científicos e culturais reordenados num exercício de invenção de mundos e encontros que se dão no Parque do Bicão.
A partir dessa compreensão acerca das representações, suas abstrações e implicações, aliada à fabulação de escala planetária, passamos a nos dedicar à espacialização das informações para construção do diagrama-instalação sob a paineira da escola. Novas relações de escala e representação foram mobilizadas tendo o corpo de cada aluno em roda como presença no planeta diagrama. Este foi o lançamento das bases para construção da instalação, cada aluno posicionado num quadrante correspondente à região de origem da espécie que estudou, fincando uma estaca no solo.
Sobre o apoio colocado em cada uma dessas estacas, foram afixados, como um caderno de campo, os resultados dos dias anteriores: ficha 01: nome científico e nome popular da espécie, origem e ocorrência da espécie nos continentes, aspectos culturais relacionados a ela, identificação do cartógrafo e de seu grupo, e a data; ficha 02: desenho de observação; ficha 03: mapa do Parque do Bicão e mapa-múndi justapostos, com a identificação da abrangência do Aquífero Guarani, e as ocorrências da planta no parque e no mundo; ficha 04: fábula dos fluxos migratórios das espécies e atores envolvidos. O último conjunto de fichas diz respeito à paineira da escola, ponto gerador físico e simbólico do projeto.
[1] https://www.inaturalist.org/pages/seek_appReferências
BENOHR, Jens et al. Multispecies resistance: a cartography of love and disaster. 2021. Disponível em: https://storymaps.arcgis.com/stories/4780bbfd5c814e8c821fc40e7d5bd3f6. Acesso em: 19 mar. 2025.
KEMMER, Laura. Spurensicherung – Reter traços. O chão urbano como arquivo de ecologias reparadoras . arte :lugar :cidade, [S. l.], v. 1, n. 2, p. 72–100, 2024. Disponível em: https://periodicos.uff.br/arte-lugar-cidade/article/view/65124. Acesso em: 3 out. 2025.
LYONS, Kristina. Chemical warfare in Colombia, evidentiary ecologies and senti-actuando practices of justice. Social Studies of Science, v. 48, n. 3, p. 414-437, 2018.
Coordenação
David Sperling, Ana Carolina Tonetti, Ivete Camargo de Araújo e Heloisa Carocci Crnkovic
Coordenação Adjunta
Gabriel Ramos, Fabiana Palmeira, Gabriela Romano López, Nayara Benatti, Rhayza Lourenço
Tutoria – Alunos de Graduação IAU-USP
Allan Kennedy, Ana Elisa Pereira Chaves, Barbara de Freitas Kimura, Julia Ferreira, Hellen Beatriz de Sousa Sales, Milene Estrela, Vitória Pires
Tutoria Externa
Alessandra Pavesi
Alunos Escola Estadual Professora Elydia Benetti
Alice de Paula Rabelo, Ana Clara Dutra Pagani, Beatriz Zambom Zacarin, Caua Pereira Santos, Davi Lembo Amaro, Felipe Antonio Barbosa Poppi, Felipe Cambourakis de Souza, Gabriel Lopes Vieira, Geovania Sophie Colleone, Guilherme Crnkovic Achui, Heitor de Souza Nazaro, Isabelli Batista Justimiano, Kemilly Moura do Amaral, Kevyn Melo do Nascimento Inacio, Laura Santos de Almeida, Leticia da Silva Carlos Nathaly Sales Silva, Nayara Benatti, Nicolas Lopes da Silva, Nicolly Lima Silva, Pedro Fernandes Possato, Sofia Rodrigues da Silva, Sophia Ellen Pereira, Victoria Camili Oliveira de Jesus
Participantes Vinculados Ao Projeto Probral CAPES-DAAD “Planet-abilidade: Integrar a Saúde Planetária e a Coabitação Multiespécies no Design e Pesquisa Urbana”
António Saraiva, Jamie-Scott Baxter, David Sperling, Laura Kemmer, Séverine Marguin, Yannik Krautkrämer, Carol Tonetti
Instituições Envolvidas
Escola Estadual Professora Elydia Benetti
Universidade de São Paulo
Polo São Carlos do Instituto de Estudos Avançados da Usp (IEA-USP)
Grupo Arte Ciência Tecnologia (ACT>IEA-USP)
Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU-USP)
Núcleo de Estudos das Espacialidades Contemporâneas (NEC-IAU-USP)
Grupo Saúde Planetária (IEA-USP)
Cátedra Martius (DAAD-USP)
Technische Universität Berlin
Diretoria de Ensino – Regional de São Carlos (Governo do Estado de São Paulo)
Escola[bica-aquífero]mundo: lugares de aprendizagem entre o Parque do Bicão e o Aquífero Guarani está vinculado ao Programa de Atividades Extensionistas Curriculares da USP. O projeto recebeu o Prêmio USP de Melhores Práticas de Extensão 2025 e Moção de Congratulação da Câmara Municipal de São Carlos.